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Paul Galbraith

Vamos conhecer Paul Galbraith?
Em homenagem à um grande nome da música clássica, decidi pesquisar sobre Paul Galbraith, a quem particularmente tenho uma declarada paixão por sua música e maneira de tocar. Galbraith não tinha pais violonistas, mas vinha de uma linhagem de músicos.“Ouvíamos muita música clássica em casa.Com três ou quatro anos, eu já ficava praticamente hipnotizado por alguns discos dos meus pais”, lembra Galbraith. E desde então começou sua carreira como violonista por muitas da influências que já tinha adquirido desde sua infância. Morando no Brasil há algum tempo, o violonista foi um dos fundadores do aclamado Quarteto Brasileiro de Violões – ele saiu do grupo há um ano e meio. Galbraith também é conhecido pelas suas ótimas transcrições de outros instrumentos para o seu violão Brahms de oito cordas. E agora temos a entrevista com Galbraith onde ele conta tudo sobre sua trajetória com o violão, sobre sua peculiar forma de tocar e muito mais. Confira:

  • Como foi seu primeiro contato com a música?

Meus pais não são músicos, mas ouvíamos muita música clássica em casa. Com 3 ou 4 anos de idade, eu já ficava praticamente hipnotizado por alguns discos deles, como Pedro e o Lobo. Comecei a estudar piano aos 7 anos, mas sem muito sucesso. Isso aconteceu quando eu e minha família voltamos de Malauí, na África, para morar em Londres. Minha professora achava que eu não era musical e não me transmitia entusiasmo para tocar piano.

  • Então você começou a estudar piano e violão ao mesmo tempo?

Sim, o contraste era muito grande. Às segundas-feiras eu tinha as aulas de piano, que fazia o possível para evitar. E aos sábados tinha as aulas de violão, pelas quais mal podia esperar. Isso durou apenas um ano, porque mudamos mais uma vez: fomos para a Cornualha, onde morava a família de minha mãe. Lá eu tive aulas com Iain Jackson. Foi realmente uma sorte encontrar um professor como ele, numa região tão afastada dos grandes centros. No ano seguinte, em 1975, voltamos para Edimburgo, na Escócia, onde nasci, e comecei a estudar numa escola oficial de música, a St. Mary’s Music School. Ali meu professor de violão foi Barry Shaw, que hoje em dia é pintor. O método de ensino dele era estimulante. Mais ou menos uma vez por mês ele me levava a um estúdio de gravação, na Murray House, onde dava aulas, e me filmava tocando o repertório para aquela fase. Então ficávamos assistindo e ele deixava que eu fosse meu próprio professor. Ele permitia que eu tirasse minhas próprias conclusões. Acho, inclusive, que o entusiasmo que sinto hoje por fazer gravações começou ali.

  • Suas influências iniciais vieram somente da música clássica?

Basicamente, sim. Havia outros elementos em torno, mas eu não saberia dizer se eram de fato influências. Sou o mais novo de três irmãos, todos homens. David e Richard foram desde cedo fãs de rock. David, o mais velho, começou a estudar violão junto comigo, com Graham Wade, mas logo depois foi para a música popular e hoje em dia é autor de canções. Richard tocava bateria e tinha uma banda de hard rock. Alguns anos mais tarde, eles até chegaram a gostar um pouco de música clássica. No meu caso, fora o fato de brincar um pouco na escola, tocando baixo elétrico, raramente me interessei pela música popular. Mas curto vários compositores e intérpretes brasileiros, especialmente Chico Buarque e Elis Regina.

Quais foram suas primeiras referências no violão?

Na Inglaterra há uma tradição muito forte de violão. Claro que todo mundo pensa logo em Segovia, mas lá existem Julian Bream e John Williams, considerados geralmente os violonistas mais importantes pós-Segovia. Tive contato com os dois, mas em termos de violão minha influência mais forte veio dos irmãos brasileiros Abreu. O primeiro disco de violão que eu tive, aos 9 anos, era deles. Naquela época era fácil encontrar os discos dos irmãos Abreu na Inglaterra, porque foram gravados lá em Londres. Não cheguei a ver os dois tocando ao vivo, mas depois que Eduardo desistiu de tocar, assisti à estréia de Sérgio, no Wigmore Hall, em Londres. Foi um evento muito especial para mim. Eu tinha 13 anos. Até cheguei a estudar um pouco com Sérgio, no único curso que ele deu na Inglaterra. Aconteceu por acaso: o curso seria dado por Julian Bream, mas ele cancelou na última hora. Sérgio iria fazer um concerto lá e ministrou o curso. Hoje tenho contato pessoal com ele, o que é fantástico. Ele constrói violões.

  • Por que você toca obras compostas originalmente para outros instrumentos?

Simplesmente porque quero tocar boa música! Parte do desafio que se apresenta para nós, os violonistas, ainda é o repertório, ou melhor, a qualidade do repertório. Muitos violonistas não compram essa briga do repertório e acabam tocando apenas música violonística de segunda categoria, que só interessa a outros violonistas. Isso acaba formando um gueto e não vai adiante, o que sempre foi um perigo. Além disso, existe o que se pode chamar de um complexo de inferioridade do violonista, que precisa ser vencido, porque nós nos consideramos os piores (risos).

  • Como você tem lidado com seu violão de oito cordas frente ao repertório escrito originalmente para o violão tradicional de seis cordas?

É interessante, mas até agora não encontrei uma obra feita para violão que não tenha sido beneficiada pelas cordas extras que tenho. A base do meu instrumento é a mesma, a referência está nas seis cordas centrais. Contar com outros recursos no violão só enriquece. Claro que existem alguns desafios técnicos peculiares a esse violão, mas ele também oferece facilidades que os violões tradicionais não permitem.

  • Quando você vislumbrou a possibilidade de usar uma posição diferente da tradicional para tocar o violão?

Chegou um momento em que eu não estava mais satisfeito com o meu desenvolvimento. O que tinha funcionado até então não servia mais para mim, especialmente o jeito de estudar e a minha técnica. Comecei a sentir isso quando não conseguia transferir para o violão alguns dos ensinamentos de George Hadjinikos. Um aspecto importante no ensino dele era o de que, na música, o essencial não é somente a qualidade do som, mas o que vem antes – ou seja, o movimento que traz o som. É como num jogo: não é a bola que interessa, mas sim a direção que você quer dar a ela. Pensando nisso, percebi as limitações da postura tradicional. Segurar e tocar o violão ao mesmo tempo restringe a relação essencial entre movimento e som, além de facilmente acabar torcendo as costas e gerar outros problemas físicos. Liberar o braço direito foi, para mim, o passo necessário para começar a integrar essa relação no violão.

  • Quem o vê tocando tem a impressão de que você se inspirou no violoncelo ou no contrabaixo para chegar à postura vertical de hoje...

Nunca estudei violoncelo. Cheguei a estudar contrabaixo por algumas semanas, quando ainda era adolescente, porque os professores achavam que seria fácil para mim por causa da afinação, que é parecida com a do violão. Mas ter estudado um pouquinho esse instrumento não me influenciou. Inicialmente, quando descobri a nova postura, mantive o ângulo tradicional, mas com o decorrer dos anos fui tocando o violão cada vez mais em posição vertical. Aí, sim, tocando na vertical, o violoncelo teve uma influência direta.

  • E como você chegou à forma atual, com o espigão no violão, a cadeira desmontável e a caixa de ressonância?

Três anos depois de ter mudado a postura, tocando na casa de Sérgio Abreu, no Brasil, ele comentou que, ao encaixar o violão entre as pernas, eu estava abafando a parte mais ressonante do instrumento. Ouvir isso de um violonista e construtor de violões genial como ele me fez parar e repensar. Então cheguei à conclusão de que, já tocando na posição vertical, eu poderia utilizar o espigão do violoncelo e voltar a sentar numa cadeira, e assim liberar a plena ressonância do instrumento. Mais tarde, ao perceber que o chão de madeira vibrava quando eu apoiava o espigão sobre ele sem usar um tapete, foi lógico chegar à conclusão de que seria interessante usar uma caixa de ressonância. Nisso eu me inspirei nos violoncelistas, sabendo que muitos usavam caixas, ou até praticáveis de ressonância, para ampliar o som, especialmente à frente de uma orquestra. Depois mandei fazer uma cadeira para poder manter a mesma referência de postura, onde quer que eu esteja.

  • Como você explica sua decisão de viver no Brasil já há oito anos? Essa opção não ajuda sua carreira de concertista, concorda?

Curiosamente, mudar para o Brasil acabou me ajudando a tocar melhor, porque eu me sinto bem vivendo aqui. Acho que foi uma decisão puramente emocional: tive de deixar de lado o aspecto objetivo, em termos de carreira. Às vezes me pergunto por que o Brasil me pegou dessa maneira. Talvez tenha a ver com o fato de eu ter passado três anos da minha infância em um país tropical – Malawi, na África. Desde a primeira vez que estive no Brasil, em 1984, quando passei uns dois meses aqui, eu me senti muito bem. Naquela viagem conheci Célia, minha esposa, então posso dizer que foi uma paixão simultânea por ela e pelo país. Logo depois que nossa filha Luiza nasceu, mudamos para cá, pensando também no aspecto do calor humano que existe no Brasil. Isso é importante para uma criança, aliás, para todos nós.

  • E em termos musicais? A tradição violonística brasileira também pesou na sua mudança?

Sim. De início, a presença de Sérgio Abreu também contribuiu para a idéia de morar no Brasil, porque ele sempre foi uma referência, um ídolo para mim. Normalmente, os violonistas da Inglaterra pensam em ir para a Espanha com a intenção de encontrar as raízes do violão. Eu senti isso no Brasil, não só por músicos como os irmãos Abreu, mas pela música popular, pelo choro. Já na primeira vinda ao País, me levaram para conhecer Raphael Rabello, no Rio de Janeiro. De fato, fizeram uma sacanagem comigo: referiram-se a ele como se fosse um violonista qualquer. Fiquei suando ao vê-lo tocar com tanta facilidade. Era impressionante! Então ele me passou o violão e eu toquei Bach para ele. Foi um encontro surrealista. (risos) A tradição violonística do Brasil é riquíssima e, para quem não conhece, chega a ser algo surpreendente. Resumindo, além da ligação emocional que eu sentia com o País, os elementos musicais também contribuíram para que eu decidisse viver aqui.

  • Você acha que ainda existe preconceito contra o violão?

O preconceito contra o violão vai e vem, mas nunca foi realmente resolvido. Houve uma onda enorme de popularidade do violão, nos anos 1970, quando eu estava começando. Naquela época qualquer violonista, de qualquer nível, podia tocar em Londres, até músicos que não tinham condições de entrar em um palco. Acho que isso aconteceu por influência da música popular; realmente houve uma explosão de interesse pelo violão. Naquela fase, Bream e Williams eram praticamente “superstars”, aparecendo toda hora na TV, mas essa bolha passou e a situação do violão voltou, em alguns aspectos, a um estágio até mesmo inferior do que antes.

  • Mas nada mudou desde então?

Mudou, sim. Agora temos um repertório contemporâneo de peso, que era bem menor antes. Foi especialmente Bream que inspirou grandes compositores e assim ajudou a criar um grupo de obras-primas para nós. Acho que para um instrumento ser vivo, você precisa tocar música da sua época. Boa parte da música clássica só vive da música do passado e assim está ficando cada vez mais difícil apresentar música moderna, até porque o nível de percepção do público geral caiu drasticamente nos últimos anos. Fundamentalmente, acho que o violão não vive uma crise, mas ainda é visto como um instrumento inferior. Ainda há um longo caminho pela frente, mas acho que a maior responsabilidade está com os violonistas. Precisamos ser músicos de verdade. Ainda não há muitos violonistas com o mesmo nível de grandes pianistas ou violinistas, violoncelistas e assim vai. Este é um desafio para nós, violonistas.
 
Gostou? Temos aqui um vídeo com Paul Galbraith, que mostra claramente sua técnica incomum de tocar o violão mas com muita precisão e de forma muito bonita, confira! E se depois de ver essa nova e diferente forma de tocar você se animou... Que tal tentar? Mas se não der certo nos avise! Aliás você sempre poderá recorrer à forma padrão que é tocada por muitos, e se não sabe tocar... Matricule-se aqui, quem sabe você não vira um Paul Galbraith depois de algum tempo?

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