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José Rastelli

Violonista de linguagem musical única e elogiada. É assim que José Rastelli, 75 anos, é considerado pelos colegas que, como ele, têm o instrumento como paixão. Modesto, o músico, nascido em Araraquara e morador de Rio Preto, prefere dispensar os elogios. “Violão não tem hierarquia. Às vezes, um violonista toca bem uma música que o outro não toca tão bem e vice-versa.”

Atualmente, Rastelli sente-se à vontade apenas tocando violão num quarto de sua casa. Mas não foi sempre assim. Por muitos anos, ele esteve sobre o palco. Só na Orquestra Sinfônica de Campinas foram 11 anos de trabalho, iniciados na década de 1970.

Apesar da carreira expoente entre os anos 1960 e final dos 1980, Rastelli nem sempre é lembrado como nome importante da música na cidade onde mora. Reflexo da desatenção brasileira aos talentos e também pela opção de viver quieto em seu canto. Ele gosta mesmo é de tocar e não precisa de palco para isso. No mês passado, saiu de casa e participou de uma apresentação em Rio Preto com músicos como o violonista Welson Tremura e o maestro Paulo de Tarso.

A inserção de Rastelli na música mistura predestinação e relutância. O pai dele era fabricante de violino e violão. “Ele fazia instrumentos e tocava um pouco. O sonho dele era que eu estudasse música”, conta. Rastelli começou a estudar violino por volta dos 10 anos. “Na época, já tocava violão de ouvido, e mal, é lógico.”

Mais tarde, na adolescência, tentava encontrar emprego, mas o pai queria que o filho se dedicasse à música. “Eu arrumava um serviço e ele me tirava.” Mas não era só o pai do menino que acreditava no talento dele. “Estava trabalhando em uma casa de ferragens havia pouco tempo e fui chamado para fazer uma apresentação de violino. No dia seguinte, no emprego, o patrão comentou da apresentação e perguntou se era algum parente meu que estava tocando. Respondi que era eu. Então ele me pagou e disse ‘vai tocar violino’.”

Nessa época, ele morava em Catanduva. Só mais tarde viria para Rio Preto. O pai de Rastelli, que levava o menino onde tivesse um maestro, veio com o garoto para a cidade, onde ele se juntou a músicos adultos que formavam uma orquestra de amadores.

Rastelli formou-se em violino, mas sua paixão continuava sendo o violão. Em 1973, mostrou sua destreza no instrumento em um programa de TV apresentado por Hebe Camargo. Lá, apresentou “Rapsódia Húngara nº2”, de Franz Liszt. “Eu estudei a peça e a tirava por trechos.” A apresentação de aproximadamente dez minutos surpreendeu tanto na qualidade quanto no tempo. Como na televisão dez minutos são considerados uma eternidade, assim que terminou de tocar, Rastelli teve de sair correndo, não pôde nem se despedir de Hebe.

Quando foi para a Orquestra em Campinas, no final dos anos 1970, começou tocando viola de gamba, instrumento tocada com arco. “É um instrumento semelhante ao violino, mas um pouco maior e com um som mais grave. Estudei uns três meses, entrei na orquestra e lá fiquei 11 anos.”

Do mesmo modo que o violão é onde Rastelli sente-se confortável, o mesmo acontece com a música erudita, sua preferida. Mas isso não impediu que ele tocasse o repertório popular. “Do popular, toco a velha guarda, toco tango, bossas. Também toquei em orquestra de baile bolero, samba.”

Ao longo de sua carreira, o violonista gravou seis discos, na época do vinil, e outros três CDs. Ao todo, Rastelli tem 12 músicas próprias. Entre seus compositores preferidos estão Beethoven e Chopin. Este último, aliás, fez a obra que ele mais gosta - “Fantasia-Improviso”. “Sou apaixonado por ela. Ouvi em um filme sobre a vida de Chopin quando ainda era moleque e pensei: vou ter de tocar isso um dia.” E continua: “Foi a vida inteira de estudo para chegar a isso.” Para quem ouve é difícil acreditar que a sonoridade alcançada por Rastelli sai apenas de um violão.

Em 1987, o violonista se aposentou e abandonou a maratona de ensaios de cinco horas diárias na orquestra. Mas não se afastou do violão. Continuou fazendo concertos pelo Estado.

Hoje, são poucas as apresentações. Rastelli segue orientação médica para descansar ao máximo a mão direita, por conta de uma tendinite (inflamação no tendão por esforço repetitivo), resultado de anos de trabalho. Mas se ele consegue ficar longe de seu instrumento é outra história. Quem o conhece bem sabe que ele passa o dia inteiro com o violão. “Forço mais a outra mão e deixo a direita quieta.” Declaração difícil de ser levada a sério por quem já o ouviu e o viu tocar.

E se Rastelli já não se apresenta com a frequência de antes, há outras formas de perpetuá-lo. “Eu acho que as composições dele ainda vão encontrar um público e serão tocadas por outros violonistas”, diz o violonista Fábio Zanon.
Fábio Zanon: ‘A técnica dele (Rastelli) é limpa, sua musicalidade é simples e comovente’
Músico ainda é referência para violonistas

Dentre os músicos que José Rastelli admira está Fábio Zanon, um dos mais respeitados violonistas do País. E a consideração é mútua. A primeira vez que Zanon ouviu Rastelli foi em 1978, aos 12 anos, em Jundiaí. Na época, o menino Zanon tocava um pouco de violão, mas não conhecia alguém que dominasse o repertório clássico no instrumento. Foi o pai de um amigo que apresentou um LP de Rastelli a Zanon. “Ele me trouxe um LP que tinha um repertório híbrido, com peças clássicas, temas de filmes, arranjos de temas mais populares. Mas era tudo tocado de um jeito que eu nunca tinha ouvido até então.”

A ocasião marcou também o interesse de Zanon por Villa-Lobos, já que no disco havia uma gravação do “Prelúdio nº1”, do compositor brasileiro. “Eu fiquei fascinado com a amplitude daquela música. Não imaginava que o violão pudesse fazer uma coisa dessas.”

Zanon conta que mais tarde se deu conta da importância de Rastelli, músico que se destacou mesmo dentro de uma geração de grandes nomes do violão. Ele explica que nos anos 1950 e 1960 surgiram importantes violonistas no Brasil, tanto no âmbito clássico quanto no popular, e cita nomes como Geraldo Ribeiro, Turíbio Santos e Barbosa Lima. Ainda segundo Zanon, a bossa nova causou uma “explosão” de violão no País e nesse período atuaram Laurindo Almeida, Luís Bonfá.

Mais tarde, surgiram Toquinho e Baden Powell. Em um período que os violonistas famosos se concentravam em São Paulo e no Rio de Janeiro, Rastelli levava música ao interior paulista, misturando obras clássicas, composições próprias, arranjos de tango, choros e músicas latinas. “A técnica dele é limpa, a musicalidade é perfeita, simples e comovente.”

Rastelli é influência também para músicos de Rio Preto. Para o violonista Welson Tremura, rio-pretense professor da University of Florida, Rastelli é uma referência de como trabalhar a música em um contexto criativo. “Ele criou uma forma de interpretar canções, harmonizar melodias e misturar com muito bom gosto o erudito ao popular, mas com sotaque do interior.”

Para o violonista João Kouyoumdjian, que concluiu mestrado este ano na Julliard School, em Nova York, José Rastelli o influenciou na relação com a plateia. “O jeito pouco ortodoxo/acadêmico de sua performance, mas extremamente eficaz no palco, é um talento típico de artistas imortais como Vladimir Horowitz, Alfred Cortot, e Andres Segovia. Tem a ver com a apropriacao da obra de arte em um nível muito pessoal. O público sente o pulso de Rastelli.” 


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